Setembro Amarelo promove o apoio emocional e a prevenção ao suicídio
Mudanças de humor são comuns em qualquer fase da vida. Na adolescência, as oscilações podem ser mais frequentes devido às alterações hormonais e corporais naturais desse período.
No entanto, especialistas alertam que altos e baixos frequentes e intensos podem indicar problemas mais sérios na saúde mental.
Neste Setembro Amarelo, mês que promove o apoio emocional e a prevenção ao suicídio, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) chama atenção para o cuidado em relação aos transtornos mentais em jovens.
O transtorno bipolar é uma manifestação de humor caracterizada pela alternância de episódios de depressão, mania ou hipomania. A doença crônica pode trazer sofrimento, afetando negativamente a vida dos pacientes em diversas áreas, em especial no trabalho, no lazer e nos relacionamentos interpessoais.
A bipolaridade traz prejuízos significativos para a qualidade de vida, devido aos altos e baixos de ânimo, alterações muito exageradas no nível de atividade ou atitude em curtos períodos. O transtorno pode se manifestar na infância e juventude, porém se detectado precocemente pode ser controlado desde o início.
O pediatra e psiquiatra Orli Carvalho, do Instituto Nacional de Saúde da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), afirma que na fase mais aguda do transtorno, tanto adolescentes quanto adultos podem pensar e falar sobre cometer suicídio.
“O transtorno afetivo bipolar, ou TAB, é conhecido há longa data, acomete de 1 a 3% da população global, sendo caracterizado por promover uma instabilidade e oscilação de humor e de comportamento, de forma prejudicial e não adaptativa ao paciente e aos seus pares. A caracterização desse prejuízo é importante para o diagnóstico, num reconhecimento que alterações de humor contextualizadas e harmônicas fazem parte do cotidiano da vida das pessoas, em diferentes idades. No TAB essas oscilações são disfuncionais, marcadas em fases e acompanhadas de sintomas e manifestações clínicas que trazem sofrimento psíquico ou consequências desagradáveis”, explica.
Embora as causas do transtorno bipolar sejam desconhecidas, hipóteses apontam o envolvimento de fatores genéticos, biológicos e psicossociais, como eventos adversos e traumáticos ao longo da vida;
“Podemos pensar que algumas pessoas carregam vulnerabilidades para o transtorno – a história familiar positiva nos dá uma grande pista para isso. Ainda assim, isso não define, pelo que entendemos hoje, quem pode desenvolver a doença”, diz Carvalho.
O reconhecimento das sinais do transtorno bipolar permite a busca por atendimento especializado e controle do problema. Para isso, além de identificar as características esperadas da adolescência, os profissionais de saúde devem conversar com a família para entender o contexto em que o jovem está inserido.
São reconhecidas no transtorno bipolar oscilações significativas de humor, com episódios depressivos alternando com episódios de euforia ou irritabilidade, também chamados de mania, se mais intensos, ou hipomania. “Episódios bem caracterizados, de intensidade relevante e de forma claramente disfuncional, segundo a fase da adolescência, as experiências de vida e os valores familiares e culturais. Episódios pouco explicados pelo contexto e até mesmo pelos adolescentes, e que interferem em sua estabilidade afetiva”, explica o especialista.
Na fase maníaca ou eufórica o adolescente pode apresentar agitação, irritação ou euforia; agressividade e hostilidade; pensamento, fala e movimentação acelerados; impulsividade e redução na capacidade de planejamento e avaliação de risco; sensação de grandiosidade e autoestima elevada; sensação de muita energia e pouca necessidade de dormir. Na adolescência, a irritabilidade pode ser mais comum do que a euforia.
Já na fase depressiva, há sinais de tristeza profunda e desesperança, desânimo ou cansaço, além da perda de interesse, de prazer e de motivação ou ideias sobre morte e suicídio.
“De uma maneira bem simplificada, temos alguns subtipos de TAB: tipo I: mania e depressão mais graves e intensas, tipo II: depressão maior e hipomania, e ciclotimia: hipomania e depressão menos intensas. Por vezes, essas manifestações ocorrem por outras condições médicas ou por uso de substâncias ou medicamentos, recebendo classificações específicas”, pontua.
O diagnóstico é clínico, feito a partir da história do paciente e de seus sinais e sintomas referidos e observados nas avaliações nas consultas. Não há exames que diagnostiquem o transtorno, ainda que alguns instrumentos possam ser um auxílio à entrevista clínica, sendo mais utilizados em pesquisas.
“O diagnóstico virá a partir do reconhecimento das oscilações significativas de humor, com episódios depressivos alternando com episódios de euforia ou irritabilidade, episódios bem caracterizados, de intensidade relevante e de forma claramente disfuncional, segundo a fase da adolescência, as experiências de vida e os valores familiares e culturais”, afirma Carvalho.
O especialista alerta que as dificuldades de acesso e as variações clínicas apresentadas favorecem o atraso no diagnóstico adequado, o que pode dificultar as intervenções possíveis.
“A importância de se pensar o TAB na adolescência é que sabemos hoje que 10 a 20% dos casos nos adultos se iniciaram antes da adolescência e que 60% dos casos se iniciam até os 20 anos de idade”, afirma.